3. Dalcroze e Pessoas
As origens de Dalcroze como um compositor suíço mostram um profundo entendimento de sua gente, de seus arredores e de seu país como uma entidade coletiva. Existe um amor histórico da Suíça pelo canto: “É um canto de uma gente feliz, com um sentimento unânimo pelo canto em grupo”. Em seu tempo, Festivais Nacionais, com performances ao ar livre e grande número de participantes eram muito comuns.
Também em sua escola em Hellerau (1910 – 1914), um dos principais elementos era o conceito de comunidade, de sociedade, onde as pessoas trabalhavam e viviam em harmonia. Como uma cidade-jardim, Hellerau seria criada seguindo o “princípio de união, de performance e também de espírito”.
“Toda a música era feita nas aulas de solfejo. A escola não possuía orquestra, coral ou solistas, pois Dalcroze não queria nada disso – somente música e pessoas”. (Spector , I – Rhythm and Life, The work of Emile Jaques-Dalcroze – tradução livre)
A instrução musical, sob a batuta de Dalcroze começaria no corpo, o qual deveria se tornar um instrumento de arte (E. J. Dalcroze – “Address to the International Congress on Physical Education, Paris, Easter 1913”, in The Eurhythmics of Jaques-Dalcroze – tradução livre). O objetivo desta educação seria um ser humano musicalmente desenvolvido, através de um “despertar dos sentidos, natural, apesar de freqüentemente oculto, para as bases primordiais da musica: tom e ritmo”(Ingham P, “The Jaques-Dalcroze Method”, in The Eurhythmics of Jaques-Dalcroze – tradução livre)
Apesar de Dalcroze não ter deixado muitos materiais escritos para as próximas gerações de educadores musicais interessados em seu método em relação a quais instruções deveriam ser seguidas exatamente, os professores da Rítmica Dalcroze nos dias de hoje ainda se baseiam nos mesmos conceitos de uma experiência dinâmica e pessoal que leva a um melhor entendimento do assunto musical.
A aula de Rítmica Dalcroze é ao mesmo tempo, uma experiência individual e coletiva. Cada pessoa está desenvolvendo suas próprias habilidades, sentindo e internalizando as idéias e conceitos musicais. Entretanto, ela está sempre em contato com os outros alunos. Geralmente, essa instrução coletiva cria um ambiente acolhedor para a experiência como um todo. Os professores nutrem não só esse comportamento do grupo como também o progresso individual de cada aluno observando cuidadosamente os movimentos corporais e improvisando para (e com) eles.
Assim, a identidade de grupo reforça o processo educacional em seu aprendizado coletivo, seu movimento coletivo e seu tocar e seu cantar coletivo.
4. Conclusão
Em meus primeiros trabalhos escritos sobre o método Dalcroze, observei que esta atividade uniria todas as minhas experiências anteriores. Acredito nessa afirmação agora mais que nunca. Descobri recentemente que me interesso muito pelo conceito de “grupo”, pela idéia de coletividade, de união. Desde minha época escolar, alem de artes e literatura, meu tópico favorito de estudo era “urbanização”, em geografia. Isto novamente se manifestou quando cursava Arquitetura, culminando com meu trabalho de graduação. Minha pintura favorita é “A Dança”, de Matisse, onde o pintor explora figuras humanas numa dança sem fim ao redor do mundo. Em musica, trabalhando com corais, posso experimentar diferentes formações de palco com os cantores e sons nos arranjos vocais.
(Henri Matisse – Dance, 1910)
O treinamento em Dalcroze me mostrou novas formas de lidar com todos esses aspectos de uma maneira criativa e artística. Sinto que estou mais perto da definição de arquitetura como musica congelada. Um elemento comum a ambos os campos artísticos é o conceito de Ritmo, um “ aliado íntimo da vida” e o “maior apelo para todos os sentidos” (Spector , I – Rhythm and Life, The work of Emile Jaques-Dalcroze – tradução livre).
Em seu livro Dancing in the Streets – A History of collective Joy (Dançando nas Ruas – Uma história do Êxtase Coletivo), Barbara Ehrenreich observa e especula o valor adaptativo da musica e dança no assunto de evolução. Ela escreve que os primeiros humanos provavelmente teriam enfrentado os predadores animais de uma forma coletiva – unindo-se em um grupo próximo, batendo os pés no chão, gritando e acenando com pedaços de paus e ramos”, mostrando-se ao predador “não como um grupo de indivíduos fracos e indefesos, mas como um único, imenso animal (…) Quando falamos de experiências transcendentais em termos de ‘participar de algo maior que nós mesmos’, talvez seja a esta antiga pseudo criatura de muitas cabeças que, inconscientemente, invocamos”. (tradução livre)
(Madrigal CorDaVoz – Brazil – 2002)
O trabalho em Dalcroze lida, em primeiro lugar, com o ser humano. De nossos próprios movimentos orgânicos e naturais, a musica é feita, entendida e experimentada. Enquanto sociedade, aprendemos desde o início dos tempos, o poder da arte, da musica e do movimento. Eles nos ajudam a entender e expressar-nos ao longo da história. O método Dalcroze é definitivamente uma educação através do Ritmo, conectando mente e corpo, não somente em musica, mas em outras áreas também. A experiência em Dalcroze é uma experiência em musica, arte, alegria e vida.
BIBLIOGRAFIA
- ALPERSON, Ruth – “A Qualitative Study of Dalcroze Eurhythmics Classes for Adults, 1995
- DALCROZE, Emile Jaques – The Eurhythmics of Jaques-Dalcroze, Bibliolife, Third Revised Edition, London, 1920 (Reprinted in the USA, Charleston, SC, 2010)
- EHRENREICH, Barbara – Dancing in the Streets – A History of Collective Joy – Metropolitan Books, Henry Holt and Company, LLC, New York, NY, First Edition, 2007
- SPECTOR , Irwin – Rhythm and Life, The work of Emile Jaques-Dalcroze, Dance and Music Series, n. 3 – Pendragon Press, Stuyvesant, NY, 1990
- TUCKER, Melissa – Dalcroze Workshop Handout – Longy School of Music, Cambridge MA, Nov. 16th, 2003
- ZEVI, Bruno – Architecture as Space – How to look at architecture, Translated by Milton Gendel, Edited by Joseph A. Barry, Revised Edition, Horizon Press, New York, 1957/1974
Websites
- Johann Wolfgang von Goethe. BrainyQuote.com, Xplore Inc, 2011 – http://www.brainyquote.com/quotes/quotes/j/johannwolf109108.html, accessed May 14th, 2011